terça-feira, maio 24, 2005

Porque raio de carga de água alguem se lembrou de fazer um blog com este nome?

Portuguesas e portugueses, Zé e Maria, senhores pensionistas e afins:

Este blog tem como objectivo servir de depósito a todo o entulho literário produzido, coligido e imaginado por mim.
Criei este blog num acto puramente egoísta.
Não quero ser famoso e por isso não edito os meus textos numa editora comum (até porque provavelmente nem seriam editados tal é a esterqueira que sai da esfera da minha caneta bic cristal). Edito os meus trabalhos aqui para meu gáudio e auto-contemplação e quem quiser ler que leia. O resto não interessa nada.

Declaro oficialmente inaugurado o MEU blog

A Verdadeira Estória de Nada

Sozinha

Ela estava sozinha, feliz, mas sozinha...
Não sei o que passava na cabeça da feliz coitadinha.
Mas estava feliz, sozinha, mas feliz...
Será que ela não sabe?
Será que ninguém lhe diz?
A solidão é um tormento
Que bate tanto cá dentro
Que é impossível não doer.
Como será então possível que aquela sozinha,
Tontinha, passe o dia a sorrir e não a sofrer?

Sozinha Posted by Hello

Arranjos de imagem feitos pelo autor (eu sou tão fixe)

O menino verde

Tomé era um rapaz como muitos outros, brincalhão, matreiro, refilão e gostava de jogar futebol. Vivia num mundo de pessoas cinzentas com amigos cinzentos e os seus pais eram cinzentos também. Tinha festas de anos cinzentas e recebia presentes cinzentos. Tudo isto seria normalmente cinzento se Tomé não fosse um rapazinho verde. Verde?
O que teria acontecido? Seria culpa da educação que os pais lhe deram? Claro que não! Os pais educaram Tomé de forma cinzenta. Então o que se terá passado? Não se sabe.
Tomé era um rapaz verde num mundo de pessoas cinzentas.
No início todos achavam piada ao bebé verde, que engraçado era ele, mas, com o tempo, Tomé não ficava nem mais um pouco cinzento e isso fez com que as pessoas se afastassem.
Agora, Tomé, o menino verde tinha de brincar sozinho, mas isso não pareceu incomodá-lo porque até achava piada esconder-se dos pais por detrás dos arbustos verdes do jardim de sua casa.
Tomé foi crescendo, foi sendo cada vez mais gozado pelas pessoas, ninguém o respeitava. Assim, Tomé decidiu que teria de tornar-se cinzento, então começou a tomar atitudes cinzentas, a ter sentimentos cada vez mais cinzentos e, a pouco e pouco foi-se tornando cinzento. Triste, mas cinzento.
Tomé, o menino verde que se tornou cinzento, entrou para a universidade, fez grandes amigos cinzentos, teve namoradas cinzentas, apanhou bebedeiras cinzentas como todas as pessoas cinzentas faziam. Acabou o curso e foi trabalhar para uma grande empresa. Estava sempre a viajar e a frequentar congressos. Tomé era um grande profissional cinzento numa empresa cinzenta e era aclamado e respeitado por todos. Ninguém se lembrava que outrora Tomé tinha sido um rapaz verde, tão verde como os arbustos do jardim onde se escondia dos pais.
Algo faltava a Tomé, sentia um vazio, era tudo cinzento demais para ele, começava a desesperar, queria ser verde, mas não podia, tinha de continuar cinzento, tinha a carreira em jogo e uma reputação a manter.
Anos mais tarde, Tomé habituou-se a ser cinzento e já nem se importava de o ser, a vida é assim, temos de ser cinzentos.
Certo dia, numa das muitas viagens que costumava fazer, Tomé, pensativo, deambulava pelas ruas de mais uma cidade cinzenta. É então que algo estranho acontece, sucede-se um encontrão com uma mulher cinzenta que caminhava sorridente e que olhava para o céu. É claro que Tomé se desfez em desculpas não fosse ele um cavalheiro cinzento, mas mulher cinzenta que sorria não se importou com o encontrão e seguiu o seu caminho.
Tomé fixou o olhar naquela mulher, era cinzenta, mas havia qualquer coisa nela que o cativava. Sabia, contudo que jamais a iria voltar a ver, por isso voltou a deambular pelas ruas da cidade cinzenta onde iria decorrer mais um congresso cinzento. Foi nesta altura que Tomé se lembrou que estava atrasado para o congresso que motivou a sua vinda aquela cidade cinzenta. Mudou de direcção e lá foi ele.
Chegou, sentou-se e ouviu os congressistas falarem a linguagem cinzenta e maçadora a que já se tinha habituado. Nunca mais chegava a hora de ir embora, queria tomar um duche e adormecer e sonhar com coisas verdes. Uma vez sonhou que voava e que toda a gente era verde e sentiu-se feliz.
Entrou o último congressista e para espanto de Tomé, o congressista era nada mais, nada menos do que a mulher cinzenta com quem se tinha esbarrado na rua. Então quis ouvir. Provavelmente seriam mais palavras cinzentas, mas aquela mulher cativou-o porque apesar de cinzenta sorria. Ficou abismado com as palavras da mulher, era estranho que uma mulher cinzenta pudesse dizer palavras tão… tão… tão verdes. Tomé bebeu todas as palavras, saboreou todos os substantivos e sentiu todos os verbos que saíam dos lábios daquela mulher cinzenta.
Quando terminou o congresso Tomé procurou a mulher cinzenta, mas foi ela quem o encontrou, tinha reparado na forma como Tomé ouvira o seu discurso. Tomé olhou-a, não disse nada, ela retribuiu o olhar e nada disse. Então beijaram-se e, de repente os dois começaram a ficar verdes. Toda a gente cinzenta que os envolvia olhava. Ao perceberem que tinham ficado completamente verdes, Tomé e a mulher cinzenta que afinal era verde, começaram a correr e saíram dali.
Casaram e tiveram muitos filhos verdes, mas Tomé e a mulher tornaram-se cinzentos de novo, contudo eram apenas cinzentos por fora, por dentro continuavam verdes. Educaram os filhos para que fossem cinzentos por fora e verdes por dentro. Assim conseguiram o respeito e a admiração de todos.
Tomé, o menino verde que se tornou cinzento e que agora era verde de novo, mas cinzento por fora, sentia-se feliz, já podia ser verde sem que os outros dessem por isso e continuou a ser o melhor profissional que alguma vez houve no ramo onde trabalhava.

Moral da história: Não podemos ser sempre verdes nem sempre cinzentos.

Havia também a história do menino cor-de-rosa, mas essa não acaba tão bem.

Olhos nos olhos

Sim, é verdade, sou eu, o autor do blog.
(até parece uma foto profissional, sou mesmo buéeeee de fixe)