quarta-feira, agosto 23, 2006

Juliana

Juliana vendia flores na praça. Flores lindas de todas as cores. Tal como as flores, Juliana era linda. Sem saber como Juliana viu-se num pequeno imbróglio. Estava em casa a preparar as coisas para o dia de labuta quando resolveu limpar uma jarra antiga esquecida lá em casa. Estava cheia de pó. Lembro-me que até espirrou. Enquanto esfregava viu algo estranho acontecer. Apareceu o génio da jarra à Juliana.
Primeiro assustou-se, mas depois ficou mais calma. Ela sabia bem que era possível encontrar o génio da jarra ao limpar, era mais ou menos como encontrar a maçaroca de milho vermelho, o "milho rei". Não acontecia a toda a gente, mas acontecia.
O génio concedeu-lhe 3 desejos e Juliana, aflita disse "Mas eu não tenho 3 desejos..."
O génio concedeu-lhe alguns dias para pensar e ficou lá por casa enquanto ela se decidia. Juliana sempre recebeu muito bem as pessoas em casa dela, mas aquele era o génio da jarra, por isso fez-lhe a cama com a colcha boa e até foi às compras. Não queria que lhe faltasse nada. Até trouxe marmelada daquela que se venda nos hipermercados, mas daquela que é de uma marca conhecida.
O génio viu que juliana era boa pessoa e até insistiu para a ajudar nas lides de casa, afinal era um génio e estava ali para servir e não para ser servido, mas Juliana não deixou, apenas acedeu a que o génio lavasse a loiça uma vez depois de jantar, porque ele insistiu mesmo muito.
Os dias foram passando e o génio até estava com outra cor. Viver dentro de uma jarra não é facil e aquela não deixava entrar muito sol porque era de metal dourado, por isso o génio estava muito pálido quando saiu da jarra, mas agora ja estava melhor.
Juliana falou ao génio da praia que havia perto lá de casa, para a eventualidade de ele querer apanhar algum ar marinho, só lhe faria bem. O génio ainda foi à praia 3 vezes, mas ele era muito sensivel ao sol, não estava habituado, por isso achou melhor deixar de ir.
Chegou o dia de pedir os três desejos. Juliana, aflita disse que ainda não se tinha decidido. O génio disse-lhe que não podia esperar mais, apenas tinha feito um favor especial por Juliana parecer boa pessoa, mas tinha o trabalho todo atrasado e já havia pelo menos mais 5 pessoas a esfregar jarras e ele tinha de aparecer a alguma delas. Por isso Juliana tinha de pedir os 3 desejos nessa mesma hora para o génio poder ir embora. Claro que ele agradeceu a estadia. Gostou muito de ter estado alí em casa numa espécie de miniférias que ele andava tanto a precisar, mas o trabalho é mesmo assim, é cansativo e viver dentro de uma jarra não deve ser tarefa fácil.
Juliana ainda perguntou se não podia esperar mais um bocado, mas o génio disse que não.
Então, Juliana pediu só um desejo.

Sendo assim vou já

Desta vez fizeste mesmo asneira pá. Já te disse que não devias fazer assim... Devias ter mais consciência. Pensar duas vezes antes de fazeres assim. Mas não... tu não quiseste ouvir... Nunca me ouves... Nunca me dás razão. No fundo achas que não tenho crédito, não é isso? Então vai lá e faz assim outra vez. Depois não te venhas queixar. Pronto... Se fizeres asneira cá estou eu. Vá, não te chateies nem fiques triste. Todos erramos de vez em quando. É a vida...
Sabes bem que não sou do género "Bem te avisei", mas tenho de te dizer uma coisa. Na verdade eu já te tinha dito para não fazeres assim. Mas pronto, estou aqui na mesma. Mas eu disse-te.
Pronto eu não falo. Agora só vou ouvir o que tens para dizer. Mas o que é que te deu para repetires o mesmo erro? Não sabias?... Porque?!
Não tens emenda. É sempre a mesma coisa.
Sabes bem que estou aqui para te apoiar e nunca te irei criticar, mas... Não achas que procedeste de uma maneira infantil? Não é uma critica, é apenas uma observação.
Eu até te tinha dito a melhor maneira de fazeres, mas tu continuaste com a tua teimosia e fizeste assim!
Sabes bem que podes contar comigo, mas hoje não posso, nem devo. Afinal ja deves saber resolver as coisas por ti. Já falas... Deixa-me só acabar o raciocínio. Olha estão-me a chamar. Precisas de mim? Não?
Sendo assim vou já.

Tenho dó de mim... de ti... de nós. Tenho dó de tudo o que não vivemos porque temos medo, de tudo o que não fazemos porque achamos que não vai dar certo.
Tenho dó do amanhecer porque cedo se fará noite, do anoitecer porque é triste, mas cedo amanhece.
Dó do verde e do amarelo, pela inocência e pelo sofrimento que significam, do laranja porque cedo apodrece.
Tenho dó de mim... de ti... de nós. Tenho dó daquilo em que me tornaste e daquilo em que te tornei, da minha culpa e da tua.
Dó do ré, do mi, do fá e de todos os outros tons musicais que me tentam a sentir, mas não sinto nada.
Tenho dó do céu e da terra, da lua e do sol, da neve e da chuva por serem tão reais.
Tenho dó de ti porque estás assim e de mim por assim estar. Tenho dó de ti porque te quero feliz e de mim porque não consigo dizer essa palavra, embora a sinta algumas vezes, talvez até demasiadas, o que me faz sentir dó de quem não a sente, mas também dó de mim por não ter coragem para admitir.
Tenho dó de mim quando canto, quando choro, quando rio, quando quero e quando não. Tenho dó porque se canto não chega, se choro é demais, se rio talvez não devesse e porque não sei sei o que quero ou não.
Tenho dó do átomo porque é instável e do tempo porque é estável demais.
Tenho dó da minha garganta porque não tem forças para dizer e da tua porque já disse.
Tenho dó de mim... de ti... de nós.Tenho tanto dó que não consigo cantar outra nota.