sexta-feira, dezembro 30, 2005

Uma noite de Natal

Leonel estava sozinho a beber um cálice de vinho do porto sentado nas almofadas que tinha no chão da sala. A lareira estava acesa, mas aquela noite continuava infinitamente gelada. Era noite de Natal e Leonel estava sozinho. Deu mais um trago e continuou a pensar.
Leonel estava sempre rodeado de gente em todo o lado, mas quando chegava o Natal não havia ninguém que o acompanhasse. Não era casado, nem pretendia. Tinha acabado um relacionamento que parecia começar a dar realmente certo, mas, como todos os outros, acabou mesmo nessa altura.
Sentia-se só. Triste. Porque é que não havia maneira de passar o Natal acompanhado?
Imaginou todos os amigos e conhecidos rodeados de familiares. No dia a seguir ao Natal toda a gente se queixa que a consoada é uma "tremenda seca", mas todos os anos repetem o mesmo e voltam-se a queixar. Quando Leonel dizia que tinha passado o Natal sozinho todos tinham pena. Leonel pensava do que é que haviam de ter pena se era assim tão aborrecido passar a consoada com a família? Não sabia a resposta, já não tinha família há muitos anos. Vivia sozinho.
Passou um ano e já se aproximava novamente o Natal. Leonel começava já a sentir a angústia típica. Este ano tinha de ser diferente, tinha de passar o Natal com alguém, mas não lhe parecia que isso se fosse realizar. Desejou que aparecesse uma fada ou um dos espíritos de Natal como aquele conto. Não apareceu ninguém.
Chegou a noite de Natal e Leonel estava de novo sozinho. Desesperado resolveu por termo a toda aquela angústia e tristeza.
Não. Leonel não se matou. Caminhou até a um centro de ajuda a sem abrigo e levou comida para os mais necessitados. Ele próprio estava necessitado, não de dinheiro, mas de carinho e companhia.
Nessa noite Leonel sentiu-se feliz. Estava acompanhado de gente muito simpática que lhe estava agradecida pela boa acção que tinha feito. Leonel pensou nos seus amigos e conhecidos rodeados de familiares. Pensou que todos eles se iam queixar do aborrecimento que é a noite de consoada. Sorriu. Apenas ele ia dizer que tinha passado uma noite de natal maravilhosa.

domingo, dezembro 25, 2005

Natal Posted by Picasa

sábado, dezembro 03, 2005

Saga de uma alma sem rumo (parte III - FIM )

Que felicidade!... O seu primeiro filho ia nascer. Ela estava cheia de dores, mas mesmo assim estava feliz. A cada contracção mais um sorriso, a cada pontada de dor, mais um pensamento feliz.Nasceu com o peso normal. Ela já podia voltar para casa junto com o marido que amava de uma forma muito intensa. "Que felicidade... O nosso primeiro filho...." Marido e mulher olhavam-se felizes, orgulhosos e apaixonados. Era um bebé saudável, cheio de energia.Não tardou que entrasse para a escola e que acabasse a escola e fosse tirar um curso superior.Novos amigos, numa nova cidade, ele via a vida de uma forma muito livre e vivia-a como se não fosse acordar no dia seguinte.Tantas experiências porque passou no liceu... Agora estava sozinho na faculdade e era dono do próprio destino.Foi numa de muitas noites em que saía que conheceu um novo amigo que era mesmo como ele. Adorava experimentar coisas novas. Além disso era muito inteligente e os dois faziam tertúlias de horas a fio sobre política, sobre filosofia, sobre tantos temas que não cabiam certamente num parágrafo apenas.Para que as tertúlias corressem de forma mais profunda o espírito havia de estar o mais liberto possível, o que obrigava a que fossem acompanhadas de vários charros por noite. Umas vezes erva, outras haxixe... Tudo o que pudesse libertar a mente e deixar o pensamento fluir era bom para experimentar. Algumas vezes choravam os dois pelas tristezas do mundo ou tão simplesmente porque era essa a vontade que tinham, e sentiam-se livres. Eram inseparáveis.Numa das muitas tertúlias resolveram introduzir drogas novas, quanto mais liberto estivesse o espírito, melhor decorreriam as conversas. Algumas provocavam visões, outras deixavam os dois amigos altamente eléctricos e outras com uma calma fenomenal.Nunca mais conseguiu acabar o curso. Tornou-se dependente das drogas. Fez várias desintoxicações, mas voltava sempre ao mesmo.Assim continuou durante muito tempo. Havia uma colega de outra faculdade que o ajudava bastante e por quem ele se apaixonou, mas nunca lhe conseguiu dizer o que sentia porque cada vez mais se sentia um inútil, um verme.O amigo de quem era inseparável foi um dia encontrado morto junto de uma paragem de autocarro. Foram tempos difíceis.Uma tarde em que a colega o procurou para lhe tentar aliviar um pouco a tristeza em que vivia ele ganhou coragem e contou-lhe sobre os seus sentimentos. Ela disse que sentia o mesmo, mas que nunca conseguiria estar com ele se ele não tentasse libertar-se das drogas.Assim foi.Os dois namoravam já há dois anos e ela continuava a estudar medicina. Ele não concluiu o curso, mas ia arranjando emprego em vários sítios. Era uma pena porque era muito criativo e só precisava de alguém que lhe desse apoio.Ele começou a pintar alguns quadros e a vender, já que o emprego começou a escassear. Ela não se importou, amava-o incondicionalmente e ele a ela.Decidiram casar.Ela nunca pensou que o pai, que apesar de teimoso, era uma pessoa tolerante, não permitisse o casamento.Nessa noite o jantar terminou muito mal. O pai saiu sozinho de casa sem dirigir palavra a ninguém. A mãe pediu desculpa pela atitude do pai e foi-se trancar no quarto a chorar e eles ficaram incrédulos na sala de estar juntos e desiludidos. "O teu pai tem razão. Olha para mim... o que é que te posso dar?", "Podes-me dar amor" – retorquiu ela.As horas foram passando e os dois concluíram que apesar do não consentimento do pai iriam casar de toda a forma. Assim que ela acabasse o curso e começasse a trabalhar os dois iriam oficializar o matrimónio.As horas continuaram a passar. De repente ele sente-se mal. Umas pontadas no peito não o deixavam respirar, caiu no chão.Enquanto estava inconsciente passavam-lhe imagens na mente, um corpo deitado no chão, um ser que não se percebia se era homem ou mulher, o nascimento do primeiro filho, a entrada dos filhos para a escola e a filha a dizer-lhe que ia casar com um ex-toxicodependente.Acordou. Ela estava assustada a olhar para ele. Ele pensava que tinha estado horas inconsciente, mas não se tinham passado mais do que breves segundos.Ele percebeu então o que se tinha passado, mas não teve coragem de contar a ninguém, não queria adiantar o sofrimento daquela que ele tanto amava de uma forma tão intensa que nunca tinha percebido o porquê. Agora percebia, agora estava tudo claro.O telefone tocou. Era do hospital. No dia seguinte foi o velório, depois o funeral. Passados alguns dias ele disse-lhe a ela, "O teu pai está bem, já não está chateado... quer que sejas feliz e que o recordes como um bom homem. Ele sabe que gostas de mim."Ela olhou nos olhos dele e nesse instante viu o olhar do pai recém falecido. Abraçou-o e chorou. Enquanto ela o abraçava ele sentia um arrepio na espinha, sentia-se a esvaziar. Fechou os olhos e seguiu o seu rumo.Passados 5 anos, a filha e o marido tiveram o seu primeiro filho ao qual deram o nome do pai dela.

És tu...

Uma brisa serena serpenteia-me a alma.
Sossegado e ameno o espírito descansa em calma.
Já não sofre, já não grita, já não roga,
Já não clama ser seu o desespero que afoga.
Serás tu que me fazes bem?
Não sei...Se não és tu não é mais ninguém.
É um bem-estar constante,
Um sussurrar confortante.
Uma brisa doce, quente e calma,
Uma brisa serena que me serpenteia a alma.

Mais uma foto do narcísico autor deste blog.

´Só para não se esquecerem de quem sou eu.


pois pois Posted by Picasa